quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Comportamento ético x Atuação profissional


Marcelo Ribeiro Rocha

É fato que, nós, seres humanos, quando queremos que as coisas funcionem em nossas vidas de acordo com a nossa vontade, não imaginamos que tais acontecimentos possam estar aos olhos dos outros, funcionando de certa forma de maneira errada. Ou seja, que elas atentam contra a moral e os bons costumes da sociedade dentro da qual estamos inseridos.

Simplesmente passamos firmemente a creditar que nosso maior desejo é que tudo ao nosso redor que de alguma forma nos favoreça, esteja acontecendo dentro das normas e leis estabelecidas e que todos estejam agindo de maneira justa e sincera em suas decisões. Resumidamente, se tais condições estiverem existindo, estaremos, então, vivendo no melhor dos mundos.

Avaliemos, dessa forma, dentro desta análise a seguinte situação: temos a necessidade urgente de um documento e estamos diante de um atendente trabalhando em um balcão de algum órgão público. Esta pessoa, então, lhe informa que tal documento só estará disponível dentro de um prazo mínimo de uma semana. Ou seja, prazo considerado normal dentro dos trâmites legais deste órgão. É claro que, devido à nossa urgência para nos apoderarmos deste documento, não poderemos esperar o decorrer de tal prazo.

Este período de espera chega a ser angustiante e, na sua mente, você declara para si próprio que a emissão deste documento parece ser uma rotina tão simples que é inadmissível que ele só possa ser entregue dentro desse absurdo prazo de sete dias (o que em sua opinião, é considerado uma eternidade). Você chega até mesmo a argumentar com o atendente frases do tipo: “Poderia colocar uma observação de urgência nesse pedido?”, “Não seria possível antecipar a entrega?”. Todavia, seria inútil esse tipo de negociação. Instantaneamente o que vem à nossa cabeça? Como se automaticamente a resposta surgisse, concluímos: preciso conhecer alguém “infiltrado” no sistema para agilizar este processo, pois a minha urgência supera as barreiras da ordem e da moral sob a ótica destes aspectos.

Esse é apenas um exemplo de uma das cenas do nosso cotidiano que frequentemente acontece em nossas vidas, seja com um conhecido, um amigo ou até mesmo comigo ou com você, pois somos seres humanos dotados de fraquezas e desejos. É a partir deste ponto que quero tocar neste assunto em questão. Até onde vão os nossos princípios, nossa ética e até que ponto o ambiente no qual estamos inseridos interfere em nossas vidas e na vida dos outros?

No ambiente empresarial este cenário, na maioria das vezes, não é diferente. Tente avaliar em quantos momentos precisamos quebrar certas normas e regras das empresas e até mesmo pessoais para preservar nossos postos de trabalho, para mostrarmos nossas competências na solução dos problemas considerados morosos e sem solução. Enfim, mostrar um alto grau de comprometimento com a organização para a qual trabalhamos. Até onde o profissional pode se manter íntegro para atingir suas metas mesmo estando ele agindo sob pressão? Qual o limite do ser humano para suportar a carga de responsabilidade dentro da organização e até que ponto estamos dispostos a testá-lo?

Definitivamente tais questões podem parecer corriqueiras e talvez não mereçam o crédito que estou dando principalmente neste contexto, mas apenas por suposição vamos imaginar que estas atitudes tornem-se um hábito e comecem a fazer parte da vida profissional do indivíduo. Como uma parasita, corroendo as entranhas do ser humano, sob o aspecto moral, tais atitudes passam a ser quase que obrigatórias na vida deste indivíduo que possui fraquezas e desejos, além do fato de que o tal “jeitinho brasileiro” irá superar a sua própria competência, o seu medo de falhar e não ser reconhecido.

A consequência disto? As empresas estarão fadadas a perder o bom profissional, o colaborador que é justo, honesto e confiável. Se por um lado ele é capaz de transpor barreiras para alcançar o seu objetivo e as metas da empresa, por outro, ele se corrompe, torna-se um manipulador de pessoas, trai a sua própria confiança de dos demais ao seu redor.

A solução seria então demiti-los? Tomar esta atitude como se estivéssemos cortando o mal pela raiz? Acredito sinceramente que não seria uma solução viável até mesmo sob o ponto de vista financeiro. O que sugiro é que a organização cuide destes profissionais com um olhar mais atento e crítico, com o apoio contínuo durante a realização das suas atividades, do acompanhamento das metas e tomada de decisões. Não devemos deixar que atuais e futuros talentos dentro da empresa venham a se tornar uma espécie de vírus, contaminando negativamente a organização, espalhando, por assim agirem, o anticlima e a desconfiança de todos aqueles que o cercam, sejam eles os seus pares, suas equipes, seus clientes, parceiros e acionistas. Afinal, devemos ter sempre em mente a seguinte premissa: os clientes sempre enxergam a empresa por trás dos colaboradores que os atendem.

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