quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vamos falar de ÉTICA


A palavra Ética é originada do grego ethos, que significa modo de ser, caráter. Através do latim mos (ou no plural mores), que significa costumes, derivou-se a palavra moral. Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.

Define-se Moral como um conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. Moral e ética não devem ser confundidos: enquanto a moral é normativa, a ética é teórica e busca explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Porém, deve-se deixar claro que etimologicamente "ética" e "moral" são expressões sinônimas, sendo a primeira de origem grega, enquanto a segunda é sua tradução para o latim.

A ética também não deve ser confundida com a lei , embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética.

Modernamente, a maioria das profissões têm o seu próprio código de ética profissional, que é um conjunto de normas de cumprimento obrigatório, derivadas da ética, freqüentemente incorporados à lei pública. Nesses casos, os princípios éticos passam a ter força de lei; note-se que, mesmo nos casos em que esses códigos não estão incorporados à lei, seu estudo tem alta probabilidade de exercer influência, por exemplo, em julgamentos nos quais se discutam fatos relativos à conduta profissional. Ademais, o seu não cumprimento pode resultar em sanções executadas pela sociedade profissional, como censura pública e suspensão temporária ou definitiva do direito de exercer a profissão.

Tanto “ethos” (caráter) como “mos” (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito” (VÁZQUEZ). Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

Comportamento ético x Atuação profissional


Marcelo Ribeiro Rocha

É fato que, nós, seres humanos, quando queremos que as coisas funcionem em nossas vidas de acordo com a nossa vontade, não imaginamos que tais acontecimentos possam estar aos olhos dos outros, funcionando de certa forma de maneira errada. Ou seja, que elas atentam contra a moral e os bons costumes da sociedade dentro da qual estamos inseridos.

Simplesmente passamos firmemente a creditar que nosso maior desejo é que tudo ao nosso redor que de alguma forma nos favoreça, esteja acontecendo dentro das normas e leis estabelecidas e que todos estejam agindo de maneira justa e sincera em suas decisões. Resumidamente, se tais condições estiverem existindo, estaremos, então, vivendo no melhor dos mundos.

Avaliemos, dessa forma, dentro desta análise a seguinte situação: temos a necessidade urgente de um documento e estamos diante de um atendente trabalhando em um balcão de algum órgão público. Esta pessoa, então, lhe informa que tal documento só estará disponível dentro de um prazo mínimo de uma semana. Ou seja, prazo considerado normal dentro dos trâmites legais deste órgão. É claro que, devido à nossa urgência para nos apoderarmos deste documento, não poderemos esperar o decorrer de tal prazo.

Este período de espera chega a ser angustiante e, na sua mente, você declara para si próprio que a emissão deste documento parece ser uma rotina tão simples que é inadmissível que ele só possa ser entregue dentro desse absurdo prazo de sete dias (o que em sua opinião, é considerado uma eternidade). Você chega até mesmo a argumentar com o atendente frases do tipo: “Poderia colocar uma observação de urgência nesse pedido?”, “Não seria possível antecipar a entrega?”. Todavia, seria inútil esse tipo de negociação. Instantaneamente o que vem à nossa cabeça? Como se automaticamente a resposta surgisse, concluímos: preciso conhecer alguém “infiltrado” no sistema para agilizar este processo, pois a minha urgência supera as barreiras da ordem e da moral sob a ótica destes aspectos.

Esse é apenas um exemplo de uma das cenas do nosso cotidiano que frequentemente acontece em nossas vidas, seja com um conhecido, um amigo ou até mesmo comigo ou com você, pois somos seres humanos dotados de fraquezas e desejos. É a partir deste ponto que quero tocar neste assunto em questão. Até onde vão os nossos princípios, nossa ética e até que ponto o ambiente no qual estamos inseridos interfere em nossas vidas e na vida dos outros?

No ambiente empresarial este cenário, na maioria das vezes, não é diferente. Tente avaliar em quantos momentos precisamos quebrar certas normas e regras das empresas e até mesmo pessoais para preservar nossos postos de trabalho, para mostrarmos nossas competências na solução dos problemas considerados morosos e sem solução. Enfim, mostrar um alto grau de comprometimento com a organização para a qual trabalhamos. Até onde o profissional pode se manter íntegro para atingir suas metas mesmo estando ele agindo sob pressão? Qual o limite do ser humano para suportar a carga de responsabilidade dentro da organização e até que ponto estamos dispostos a testá-lo?

Definitivamente tais questões podem parecer corriqueiras e talvez não mereçam o crédito que estou dando principalmente neste contexto, mas apenas por suposição vamos imaginar que estas atitudes tornem-se um hábito e comecem a fazer parte da vida profissional do indivíduo. Como uma parasita, corroendo as entranhas do ser humano, sob o aspecto moral, tais atitudes passam a ser quase que obrigatórias na vida deste indivíduo que possui fraquezas e desejos, além do fato de que o tal “jeitinho brasileiro” irá superar a sua própria competência, o seu medo de falhar e não ser reconhecido.

A consequência disto? As empresas estarão fadadas a perder o bom profissional, o colaborador que é justo, honesto e confiável. Se por um lado ele é capaz de transpor barreiras para alcançar o seu objetivo e as metas da empresa, por outro, ele se corrompe, torna-se um manipulador de pessoas, trai a sua própria confiança de dos demais ao seu redor.

A solução seria então demiti-los? Tomar esta atitude como se estivéssemos cortando o mal pela raiz? Acredito sinceramente que não seria uma solução viável até mesmo sob o ponto de vista financeiro. O que sugiro é que a organização cuide destes profissionais com um olhar mais atento e crítico, com o apoio contínuo durante a realização das suas atividades, do acompanhamento das metas e tomada de decisões. Não devemos deixar que atuais e futuros talentos dentro da empresa venham a se tornar uma espécie de vírus, contaminando negativamente a organização, espalhando, por assim agirem, o anticlima e a desconfiança de todos aqueles que o cercam, sejam eles os seus pares, suas equipes, seus clientes, parceiros e acionistas. Afinal, devemos ter sempre em mente a seguinte premissa: os clientes sempre enxergam a empresa por trás dos colaboradores que os atendem.

O papel da ética no RH das organizações


O papel da ética no RH das organizações

Marcelo Ribeiro Rocha

Muito se tem falado sobre ética atualmente. Parece-me que o assunto é quase uma novidade no mercado; e o pensamento de uma grande maioria é de que se trata apenas de mais um "modismo", uma onda passageira que arrastaria as organizações para um processo de revisão de seus procedimentos internos e externos nos âmbitos social, cultural, de convívio com clientes, fornecedores e acionistas diante de uma crise mundial ora instaurada.

Mero engano. O tema que a princípio parece ser recente e superficial em alguns círculos é mais antigo e profundo do que se imagina. Se levarmos em consideração a origem do termo, "ética" representa mais que a essência do como devemos agir para atingir um objetivo ou uma meta, ou melhor, dentro de quais princípios devemos nortear nossas decisões.

A incansável busca do homem para conseguir sua realização, o seu equilíbrio psicofísico, enfim, ter uma vida virtuosa, vai de encontro a esses conceitos de caráter ético debatidos exaustivamente por grandes filósofos, desde os tempos de Sócrates, há cerca de 400 a.C.. A partir de então, foram surgindo novas correntes filosóficas sobre a ética, porém, sempre dentro de um propósito único que é a definição da maneira de agir do ser humano - único ser vivo capaz de demonstrar tais comportamentos dentro da visão ética - e de se relacionar com o meio em que vive.

Diferentemente da moral, mas estreitamente relacionada ao termo, é através da ética que a pessoa é levada ao seu momento de introspecção. Isto é, ele se volta para o seu próprio íntimo fazendo um autoexame de consciência e avaliando os reflexos de suas atitudes e comportamentos perante a sociedade que o circunda; afinal, a atitude ética é necessária em qualquer segmento, seja na vida profissional ou pessoal.

Ao longo dos anos, a sociedade de um modo geral vem passando por transformações comportamentais que consequentemente influenciaram as empresas a passarem por processos de mudanças em relação à sua atuação e os impactos gerados por elas. Tais mudanças são fundamentais para que essas organizações sobrevivam em um mercado globalizado, como o atual, isto é, se realmente estas companhias estiverem de fato dispostas a se tornarem competitivas e sobreviverem.

Já não existe espaço para as empresas que não se engajam no que diz respeito à sustentabilidade e à responsabilidade socioambiental, pois os consumidores estão mais exigentes e conscientes do papel das organizações nestas questões, o que gera certa pressão para que elas atuem de maneira sustentável.

Então, o "agir correto" deixou de ser tratado apenas como mais um "artigo de perfumaria"; é um tema que agora está inserido em planos estratégicos empresariais e em alguns casos faz parte até mesmo das metas a serem atingidas pelas equipes de trabalho. É dever de todos nas instituições manter a boa imagem da organização perante a sociedade através da boa conduta de seus funcionários, tanto com os clientes internos quanto externos.

É neste cenário de mudanças que o papel da área de Recursos Humanos tem sido de fundamental importância. Desmistificar o assunto e disseminar a importância da ética - adotando-a muitas das vezes como um valor institucional - que está relacionada a ações e bons comportamentos de todos os funcionários da organização. Além de alinhar todos os níveis hierárquicos, convidando-os a participarem democraticamente da elaboração e implantação de um código de conduta interno, são formas de comprometer e envolver a organização como um todo, para juntos caminharem em consonância com os ideais, valores e missão da empresa.

Cabe, neste caso, à área de Recursos Humanos o papel de mediador dessas questões. É o RH que possui as ferramentas para o envolvimento das pessoas, convocando-as e incentivando-as a se comprometerem com o processo de implementação de uma nova cultura organizacional.

Neste novo cenário o RH ganha uma posição de destaque, pois agora assume um papel mais estratégico nas organizações, funcionando como uma espécie de elo de ligação entre as áreas. Dessa forma, o departamento atua verdadeiramente como agente ativo nos processos que envolvam as pessoas e deixando de lado aquela visão antiga de RH operacional, na qual o setor era visto apenas como um gerador de custos e sinônimo de demissões.


Ética Profissional



Vídeo mostra vários exemplos de Ética, ou melhor da falta dela, seja em acontecimentos políticos ou do cotidiano do brasileiro.

Ética, nós precisamos dela!

Como instituir um código de Ética em RH


Abaixo, você pode conferir 20 diretrizes fundamentais para o estabelecimento de um código de conduta ética em práticas de recursos humanos.

1. Relacionamento entre pessoas: esse é um tópico em que pode haver uma diferença muito grande entre o discurso e a prática. Um clima de paz e harmonia é sempre desejável, mas é preciso saber se as ações adotadas estimulam esse ambiente.

2. Respeito no relacionamento: muito da autoestima das pessoas depende de como as mesmas percebem que suas ideias e sua colaboração estão sendo aceitas. As pessoas precisam de espaço para iniciativas e autonomia.

3. No relacionamento, respeito à individualidade: toda e qualquer situação que gera intimidação ou constrangimento deve ser evitada.

4. Transparência nos contratos: devem ser expostas, em detalhes, as condições de trabalho e as responsabilidades de todas as partes envolvidas. E mais: é preciso explicitar a forma de remuneração e os benefícios, as perspectivas reais de crescimento etc.

5. Seleção de pessoas: essa é uma questão muito difícil porque há discriminações que são aceitas como normais. Livre-se dessas barreiras.

6. Compromisso com valores: as pessoas devem ser selecionadas também pelo alinhamento com os valores da organização. A discussão dessa questão pode ajudar a identificar esse alinhamento já no processo seletivo.

7. Avaliação das pessoas: a imparcialidade e a justiça são importantes na avaliação de subordinados, que deve ser explicitada. O feedback deve ser fornecido em condições de respeito máximo.

8. Demissão: o processo de demissão deve ser digno e apoiado. A comunicação deve ser pessoal, individualizada e feita com privacidade. O apoio deve prever, sempre que possível, recursos e orientações para a continuidade da carreira.

9. Remuneração: a remuneração deve ser justa e ter o mercado como referência.

10. Ambiente físico: as condições materiais de trabalho precisam garantir a segurança e a saúde.

11. Qualidade de vida: o esforço para obter resultado precisa estar harmonizado com as características de qualidade de vida de cada pessoa. Para tanto é necessário identificar o aumento do estresse, que ocorre com diferente intensidade em cada pessoa, e buscar formas de restabelecer o equilíbrio.

12. Vida pessoal: é importante o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal de forma a permitir a realização integral do trabalhador.

13. Atividades paralelas: não deve haver conflito de interesse entre as atividades nas organizações e a participação em atividade externas paralelas ao trabalho. Não se trata de coibir a participação em atividades, mas de ter clareza sobre quando essas atividades trazem conflitos comerciais, de exposição pessoal ou de vazamento de informações.

14. Responsabilidade social: além de estimular essa participação, é importante conhecer e intervir, se necessário, nas condições em que vivem as pessoas que trabalham na organização.

15. Relações trabalhistas: é preciso garantir a representatividade dos trabalhadores da empresa e a liberdade de organização de atividades associativas.

16. Cooptação: o dogmatismo ideológico, religioso e até mesmo esportivo induz as pessoas ao proselitismo. Fuja de tais ideais.

17. Comunicação: às vezes, práticas sofisticadas de endomarketing convivem com canais bloqueados de comunicação. A organização pode ficar satisfeita, mas talvez esteja faltando liberdade.

18. Comportamento: transgressões graves certamente precisam ser explicitadas no código de ética. Por esse motivo, é necessário deixar clara a intolerância com concessão de favores, subornos etc.

19. Trabalho infantil: não deixe sua empresa estabelecer acordos comerciais com organizações que não estão comprometidas com o combate ao trabalho infantil.

20. Responsabilidade por patrimônio e informações: os colaboradores devem preservar os bens da organização.

Fonte: “Manual de Gestão de Pessoas e Equipes – Volume 1”, organizado por Gustavo Boog e Magdalena Boog.

É engraçado, mas é sério!


Se tratando de Ética em qualquer âmbito de nossas vidas,
não podemos agir como eles...
Dando uma de "João sem braço" ou de "Cegos, surdos e mudos"!

Irreverência

Entrevista com Francisco Gomes de Matos, Consultor e Autor do livro: "Ética na Gestão Empresarial - da Conscientização à ação".

Ética: profunda revisão da cultura corporativa

Patrícia Bispo

A formação de equipes comprometidas é um desafio constante para as organizações que lidam com os efeitos da Globalização -- fenômeno que permite a disseminação do conhecimento em uma velocidade surpreendente. No entanto, para que os profissionais “vistam a camisa” da empresa é necessário que eles estejam motivados, sintam-se parte do negócio e entendam a importância do seu trabalho para o alcance e a superação de metas. Mas como conseguir que as pessoas, com pensamentos e necessidades individuais, trilhem em busca de um objetivo comum? Esse questionamento é feito inúmeras vezes por dirigentes de companhias que atuam em segmentos dos mais variados. Já a resposta para essa indagação, dependerá da cultura de cada organização e da adoção de ações concretas e direcionadas à Gestão de Pessoas. No entanto, um fator certamente influenciará a obtenção ou não do sucesso desses investimentos: a presença da ética organizacional.
De acordo com Francisco Gomes de Matos, consultor e autor do livro “Ética na Gestão Empresarial – da Conscientização à Ação”, lançado pela Editora Saraiva, o pressuposto básico é que a ética está presente na consciência humana e na cultura das organizações, onde se desenvolve a consciência coletiva. Dessa forma, a cultura corporativa torna-se a primeira referência de um modelo de renovação ética. “A liderança é formadora de consciências, vontades e estratégias transformadoras, direcionadas ao bem-comum. Ser líder implica, necessariamente, em ter compromisso ético”, destaca. Em entrevista concedida ao RH.com.br, o consultor cita quais os principais fatores que dificultam a adoção de uma postura ética no meio organizacional e reforça a importância da presença do profissional de Recursos Humanos nesse contexto. O tema é, no mínimo, polêmico e certamente ganhará um espaço cada vez mais destacado nos corredores das empresas e junto às funções estratégicas. Boa leitura!

RH.COM.BR - O que podemos considerar ética corporativa?
Francisco Gomes de Matos - Ética corporativa é a maneira de “ser” de uma organização. Significa que sua conduta pública orienta-se por princípios de valor consensuais, que caracterizam um perfil próprio. De uma ética corporativa, reconhecidamente consistente, resulta o efetivo engajamento de pessoas com as organizações – o orgulho de pertencer ao quadro da empresa. É imprescindível o sentimento de admiração para que exista uma identificação com a causa. A ética corporativa retrata a cultura organizacional.

RH - Ser ético tem sido complicado no meio organizacional?
Francisco Gomes de Matos - Tem sido muito complicado porque não há razoável conscientização para o conceito e a dimensão da ética. Ética implica responsabilidade e comprometimento e, como tal, incomoda aos que querem obsessivamente ganhar e ganhar, mesmo que todos sejam perdedores. Na estratégia de negociação há sempre um espaço reservado para um mínimo de renúncia às vantagens pessoais. Em relação à ética esse espaço é maior, pois a referência básica é o bem comum.

RH - Por que a ética corporativa tem tornado-se um tema polêmico?
Francisco Gomes de Matos - Um dos motivos são os descalabros noticiados, hoje, veiculados com mais impacto pela mídia, induzindo às mudanças de comportamento, sem que tenham existido revisões e transformações significativas na escala de valores de grande parte dos dirigentes. Defendo ser imprescindível passar pelo teste da essencialidade da ética: sentir a necessidade de ser; querer ser e saber ser. No primeiro plano está a conscientização, em seguida a determinação e, finalmente a sabedoria. Sem essa seqüência lógica o comportamento ético é contraditório. Não basta existir a intenção ou o querer romântico, é preciso competência no agir. Competência é um fator ao qual atribuo força considerável, é preciso saber realizar valores, princípios, sonhos, talentos, sem que a frustração mine energias, abrindo campo para todos os desvios e as distorções. O homem sem perspectiva ética tem baixa imunidade ao vírus da corrupção.

RH - O que falta à realidade empresarial é a presença de um modelo de gestão ética que dê um norte às organizações?
Francisco Gomes de Matos - Falta às organizações a exata compreensão que competência para resultados não é fruto de comando autoritário e ações reativas. O jargão competitividade, tão a gosto na linguagem corporativa, traduz-se infelizmente em estímulo ao vencer, vencer a qualquer preço, mesmo a custo da dignidade humana. A competição predatória é alimentada o tempo todo, sem até mesmo ser percebida - esse é o grande paradoxo e a contradição nos discursos motivacionais nas empresas. Um modelo de gestão ética começa por uma profunda revisão da cultura corporativa. É vital a identificação de todos com os valores comuns - as pessoas integram-se por filosofia, não por tecnologias. Mas hoje vive-se uma terrível fantasia tecnológica, onde há forte sedução do ter sobre o ser. A corporação do ser - que apesar de muitas evidências contrárias - todavia, ganha cada vez mais espaço.

RH - Atualmente, que fatores mais ferem a ética corporativa?
Francisco Gomes de Matos - São muitos os que tratam a ética como se fosse uma donzela angelical, pouco tendo a ver com o mundo real. Pensam: tudo bem, desde que seja circunscrita aos salões. Ou colocam a ética onde nunca deveria estar, num contexto de corrupção em que seu conceito esvazia-se em posicionamentos equívocos. A simulação da ética cria um mal gravíssimo: a descrença da juventude pelos padrões éticos do sistema e das corporações. Estamos falando do futuro, o que poderemos esperar? Daí dizemos que é urgente que se promova a pedagogia da ética, através de programas educacionais de conscientização e aplicação, pró-ética da ética. Os fatores que mais ferem a ética corporativa são basicamente a falta de nitidez e de conscientização de valores, além da desvalorização humana, incluindo aí todos os personagens atuantes, dirigentes, empregados, clientes, públicos em geral.

RH - O que dá consistência à ética corporativa?
Francisco Gomes de Matos - O princípio básico é estarem todos comprometidos com verdades comuns, integrados pela vontade comum e empenhados na ação comum. O consenso é pressuposto democrático básico, significando acordo e compromisso quanto ao que é essencial. Nisso se corporifica a ética.

RH - O principal condutor da ética nas organizações são os líderes?
Francisco Gomes de Matos - A ética faz parte da essência da liderança autêntica. Sem ética temos o tirano, na empresa o capataz, não o dirigente transformador, consciente de sua função educativa. A bandeira do líder é a renovação contínua das pessoas, das estruturas e das tecnologias. Uma empresa do ser é uma corporação fundada na ética da solidariedade. Todas as organizações possuem líderes, mas o que faz a diferença qualitativa é a liderança integrada. Integração é a mola da ética e a ferramenta imprescindível do líder.

RH - E como se posiciona o profissional de Recursos Humanos dentro dessa realidade?
Francisco Gomes de Matos - O profissional de Recursos Humanos é, por excelência, o educador na empresa e, assim, um agente ético de desenvolvimento, que é um conceito abrangente, envolvendo aspectos sociais, econômicos, tecnológicos, de negócios, mas que terá que atender prioritariamente o homem total. Sem a valorização humana qualquer expansão é transitória.

RH - Que fatores podemos considerar indissociáveis e sistêmicos para a disseminação e o fortalecimento da ética nas empresas?
Francisco Gomes de Matos - A ética como traço essencial da cultura corporativa é resultado da ação valorativa coerente das lideranças, com foco na educação empresarial. O sistema de comunicação - a informação relevante ao alcance de todos - e de geração de idéias - o livre pensar para agir com consistência. Nesse sentido, é vital criar espaço próprio para o pensamento estratégico. Minha experiência com a formação de um comitê estratégico é extremamente positiva. Costumamos fazer uma pergunta instigante: onde estão sendo formados os pensadores na empresa? Onde eles se reúnem? A prática das reuniões, sem filosofia, nem metodologia é, de um modo geral desgastante e desmoralizador. Por exemplo, um lugar onde pouco se pensa nas organizações é durante as reuniôes feitas pelas diretorias, pois os dirigente têm por vocação serem reativos na solução de problemas. O problema é a manifestação do passado, não consideram as oportunidades, cuja meta é o futuro. O grande desafio é superar o agir-pensar pelo pensar-agir. A ética estará fortalecida quando existirem estímulos concretos e estrutura para o pensamento inovador.

RH - Que ferramentas ou recursos corporativos podem ser usados no dia-a-dia para estimular a ética organizacional?
Francisco Gomes de Matos - No livro “A Cultura do Diálogo", Gustavo Gomes de Matos, recomenda e reforça a cultura do diálogo: criação do clima motivador ao entendimento, a negociação e a criatividade. Comunicação e relacionamento são duas áreas críticas que devem ser consideradas estrategicamente, pois são fatores éticos de sobrevivência organizacional.

RH - O Sr. é a favorável à adoção de códigos de ética nas empresas?
Francisco Gomes de Matos - Não tenho muita simpatia pelos códigos de ética. Acredito na boa intenção em instituí-los e que podem até serem necessários para determinados contextos e comunidades, mas vejo preocupante sinal de motivação punitiva nos mesmos. Partem do pressuposto restritivo quanto à moral vigente - nesse caso já existem códigos específicos, como civil, comercial, penal, entre outros. Prefiro a ênfase no educacional, na credibilidade, na honradez, que decorrem da cultura ética, que está sendo permanentemente construída. Em vez de códigos, sugiro diretrizes éticas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Gutemberg Macedo - Consultor de Carreiras, fala sobre Ética e RH

Aqui Gutemberg Macedo, consultor de carreiras, autor de diversos livros, premiado com o Jabuti de literatura e apresentador do programa Você X Gutemberg, na TV Ideal, fala semanalmente sobre tópicos importantes, como carreira, conhecimento, equilíbrio em sua vida pessoal e profissional. Aproveite para acompanhar o pensamento da maior autoridade em carreiras do Brasil e enriqueça sua vida com os conselhos do Mestre.